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A cantiga do tanto faz

Cá passei o dia das Eleições Presidenciais a resmungar contra as leis europeias que só dão aos cidadões da UE  residentes num outro país da mesma o direito de voto para as eleições "light", aliás as Autárquicas e as Europeias. O "voto a sério" fica para o país que emite o nosso passaporte, independentemente de há quanto tempo já não vivemos lá .

No meu caso, já passei mais anos no estrangeiro do que no país onde nasci. Hoje em dia, é somente com embaraço vago que observo de longe os ensaios e atribulações de um país que já foi terra de asilo para muitos - inclusivamente para os meus avós - e agora está a tornar-se cada dia mais intolerante. Não tenciono lá voltar. Sendo neste momento residente em Portugal, o que é relevante para mim, o que me interessa é o que acontece aqui.

Apesar de ser um dos cerca 5000 elementos importados na sociedade açoriana - no sentido de ser estrangeira a trabalhar e a pagar impostos cá - e apesar dos meus esforços para enquadrar-me na realidade sócio-cultural portuguesa, em termos de democracia, ficarei sempre à margem, neste nenhures irritante entre culturas.

É portanto com alguma incredulidade que vivi as Presidenciaís 2011.
"Portugal está mal", ouve-se todos os dias na rua, "Portugal está à deriva" mas vinda a hora de votar, ficou muita gente em casa. Porém, no dia a seguir, voltou-se a falar mal de tudo e todos, a choramingar com resignação fatalista que o país está a sofrer...

No fundo, não lhe parece um pouco... absurdo? No arquipélago, a taxa de abstenção no dia 23 foi estonteante: 68.9% dos açorianos não se incomodaram a ir votar. Ou será que tomaram a decisão ponderada de não participar no acto eleitoral porque se sentiram também marginalizados?

Nas Comunidades, segundo o Observatório da Emigração, a taxa de abstenção rondou os 94.5%. "Acho que quem vive fora de Portugal não deveria ter o direito de decidir quem ou não seja eleito. Voto apenas no país onde vivo", disse-me um luso-americano de Darmouth, MA, ecoando os pensamentos de muitos emigrantes com quem contactei.

E para quem quiser votar lá fora, é contudo mais complicado do que cá, principalmente se não viver perto de um consulado. Mesmo nas cidades que têm consulado, os horários de abertura nem estão sempre adaptados a quem trabalha, é preciso ficar na fila etc. Talvez por isso são poucos os portugueses inscritos nos consulados e ainda menos os que votam. Em Toronto por exemplo, dos 8221 portugueses inscritos ao consulado, apenas 397 votaram. Será que o sistema poderá ter alguma coisa a ver com isso então?

Portugal já pensou em aproveitar o poder da tecnologia no âmbito da votação electrónica e até realizou alguns projectos pilotos - em 1997 e 2001 para as Eleições Autárquicas, em 2004 para as Eleições Europeias e em em 2005 para as Legislativas. Mas o voto electrónico sai caro em termos de investimentos e apresenta inúmeras dificuldades e questões de segurança - não é para já, se é que algum dia chegará.

Resumindo e concluindo, não há solução mágica que possa substituir a vontade humana de participar.

E de qualquer maneira, será que alguém - cá ou lá - ainda se importa?
(quazorean@gmail.com)

por Kitty Bale, jornalista

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